08/09/2011

absolutamente nada

A. Paul Weber, The Rumor, 1943 via 50 Watts

Quando enfrento o ônibus lotado até o metrô Conceição, ou desvio da pressa das pessoas nas calçadas da Paulista e da Augusta, me sobe uma alegria idiota. Sinto-me seguro nas ruas de São Paulo. E o motivo é simples: ninguém te conhece.

É uma coisa óbvia pra quem cresceu e vive desde sempre imerso nessa legião de estranhos. Até meio ridículo falar uma coisa dessas. Mas pra quem cresceu numa cidade com pouco mais de cinco mil habitantes, há sempre esse estranhamento (ninguém te conhece), e isso conforta.

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Numa cidade pequena o reconhecimento é tão imediato que até quem você não conhece te reconhece. Sabe onde você estudou, se você era um bom ou mau aluno, quem são seus pais, avós, irmãos, o que eles fazem, que lugares frequentam, etc. Tanta intimidade é sufocante. Tanto reconhecimento eleva o superego à última potência. Peso. Insegurança. E sobe essa vontade de se encolher num canto, sumir, desaparecer. Porque de repente nada daquilo que você faz é suficiente pra quem te conhece demais. Pra quem acha que já sabe como você é. E como você deve ser. Cidades pequenas são os lugares mais perigosos e inseguros do mundo. Tipo Dogville.

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Caminhando pelas ruas de São Paulo me sinto livre. Um eremita, diante de pessoas que às vezes te olham mas nunca te reconhecem. E não esperam que você faça nada. Absolutamente nada. Talvez jogar o papel no lixo, aguardar sua vez na fila. Segurar a sacola da moça no ônibus. Dar lugar ao sr. de cabelos brancos e rosto de papel. E somos todos franciscanos nessa horas. Com o coração cheio de segurança. Amém.

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Perfeito seria um lugar como São Paulo absolutamente vazio. Sem ninguém. Mas não. Nada é perfeito.



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oi.